domingo, 15 de janeiro de 2012

Como faço uma CIPA funcionar apoiando a Segurança e Medicina do Trabalho dentro de uma empresa sem entrar em atritos com a Empresa e os Empregados?

A CIPA é uma comissão interna de prevenção a acidentes que visa a promoção da saúde e da segurança no trabalho instituída de acordo com a NR-05, composta por representantes dos empregados por eles eleitos e por representantes da empresa por ela indicados em número igualitário.

No mercado muito nos deparamos com a fama da CIPA de ser uma comissão que não funciona, que não consegue negociar e muito menos impor as necessidades dos trabalhadores e que é composta apenas por trabalhadores que buscam uma estabilidade no emprego ou para criar conflitos com a empresa (pois a legislação garante proteção ao cipeiro contra a despedida sem justa causa desde a inscrição e se eleito, até  um ano após o mandato que é de um ano, ou seja, 2 anos).

Isto infelizmente até procede, mas em parte, tudo depende mesmo de quem faz parte da comissão e de como pensam e agem. Em minha carreira profissional tive a honra de ser membro de 3 CIPAs na área de saúde, 1 no setor automotivo e 5 no setor de transportes, sendo que Presidi 6 delas, nas demais fui membro indicado pelo empregador.

Como presidente da CIPA (que pela lei é indicado pelo empregador) meu lema é conscientizar não só os trabalhadores, como também os próprios empregadores que a mim indicavam da importância dela quebrando o paradigma de disputa dentro da comissão, nela todos éramos iguais na busca de um objetivo comum, fazer a CIPA funcionar, mas beneficiando mutuamente as duas partes, ou seja, aos empregados e a empresa sempre foi meu alvo. E realmente funcionou bem, pois, quando você coíbe a disputa, une forças e os dois lados estão juntos são mais fortes.
Nas nossas CIPAS, as reuniões tinham sempre o seu calendário cumprido, as tarefas e responsabilidades eram todas divididas mediante consenso, quem assumia um compromisso, até eu mesmo como presidente, era obrigado a dar um retorno já na próxima reunião ou até antes dela, a cada reunião debatíamos a ata anterior colocando as soluções obtidas, e criando estratégias para aquelas que não havíamos alcançado, além disto, a cada reunião todos os presentes eram provocados a dar uma idéia. O clima das reuniões sempre foi harmonioso e cordial, e muito profissional focado exclusivamente em questões de segurança e saúde do trabalho, eventuais dispersões de assunto eram educadamente trancadas. Enfim, todos os cipeiros participavam ativamente dando idéias, buscando soluções, interagindo com colegas, participando das reuniões de modo aberto, nossas CIPAs eram verdadeiramente unidas e focadas, os conflitos quando ocorriam eram de imediato estancados via negociação.
Em uma das CIPAs tivemos a presença de um sindicalista como membro eleito pelos empregados, fato este que por si só, em outras empresas poderia ser sinônimo de conflito, mas na nossa CIPA não, a transparência, foco, trabalho em equipe e liderança eram tão fortes, que um sindicalista conservador dialogava e negociava com bom senso, inclusive, com cipeiros indicados que eram Gerentes da empresa.
Mas quais são as dicas básicas para uma CIPA funcionar bem afinal?
- Elimine preconceitos, barreiras hierárquicas e de áreas: Na CIPA não pode existir barreiras em que um cipeiro não possa manifestar sua opinião por temer sua chefia, não pode haver espaço para preconceito em achar que um cipeiro eleito pela produção e que tenha pouca escolaridade seja menos competente que um cipeiro de nível superior indicado pelo empregador.
- Evite ou estanque os conflitos: Os conflitos são naturais, porém, não se pode deixar com tomem propensão que fuja ao diálogo e bom senso, o presidente precisa ter a capacidade de liderança para intervir educadamente amenizando ânimos, preferencialmente até antes que estes se enalteçam.
- Crie um Clima de Trabalho em Equipe: Quando você divide responsabilidades, dá espaço para a liberdade de opiniões, age com transparência, tem bom senso e empatia com a comissão e dissemina isto entre todos os membros consegue fazer com que todos se ajudem e consequentemente a você também, aos empregados e à própria empresa.
- Divida as Responsabilidades e Atribuições: Você deve fazer todos os cipeiros quererem trabalhar como motivação, para isto, dê a cada um uma tarefa afim com suas possibilidades de alcance, se preciso, faça duplas de trabalho, unindo alguém mais forte com outro mais fraco em termos de atuação.
- Cobre Resultados Pré-Combinados: Quando você convence todos a participar e pré-combina com eles a forma de atuação e de cobrança, eles aceitam ser cobrados depois, pois já sabiam disto. Além do mais, mesmo assim aja com educação e bom senso. A cada reunião distribua tarefas aceitas voluntariamente por cada um e na outra reunião leia a pauta da ata anterior cobrando deles os resultados, se alguém atingiu dê baixa da ata do problema, se o assunto está em andamento mencione isto, se ele não conseguiu, veja o que falta para isto e providencie o recurso ou repasse o assunto a outro cipeiro com o aval dele. Em casos extremos assuma a tarefa, pois, como presidente tem mais forças.
- Mostre que a CIPA Funciona: Quando você faz parte de algo que funciona você se motiva, então mostre aos cipeiros os resultados que estão alcançando, motive eles a cada reunião e debata as conquistas.
- Tenha e Mantenha o Foco: A CIPA precisa estar unicamente focada em questões que envolvam a segurança e a saúde no trabalho dos trabalhadores, portanto, não se pode perder o foco com assuntos alheios a comissão como discussões salariais, futebol, etc. Quando você percebe que o foco pode sair, retome o caminho de modo educado retornando a pauta, havendo,  por exemplo, insistência em se manter o tema, negocie com o cipeiro tratar com ele após a reunião no setor específico e ajudá-lo a obter maiores informações.
- Seja Ativo, Dinâmico e Líder: Se o próprio presidente não tiver tais atributos, ele mesmo desmotiva e desabilita a CIPA, alguns presidentes nem sempre apóiam a CIPA, contudo, esquecem-se que o não funcionamento dela, é o não funcionamento dele em termos de competência e liderança.
- Seja Político e Negociador: O bom cipeiro e principalmente o bom presidente sabe negociar, não impõe, e é extremamente político, pois, precisa ajudar empregados, mas também e muito a sua empresa, portanto, deve negociar o funcionamento da CIPA até mesmo com seus Diretores, sempre com educação e bom senso.
- Treine, Faça e Propicie Cursos: Os cursos de CIPAs devem ser anuais, não só pela lei, mas por também ser uma reciclagem aos cipeiros reeleitos e um aprendizados aos novatos. Portanto, cabe ao presidente sempre buscar condições para que o curso seja sempre realizado e com qualidade. A CIPA ainda deve sempre realizar a SIPAT – Semana Interna de Prevenção a Acidentes em conjunto com o SESMT, não só  por ser uma obrigação legal, mas por ser um espaço para treinamento dos cipeiros e também dos empregados. Somado a isto uma SIPAT bem organizada e bem realizada, com palestras adequadas e brindes para os empregados (obtidos em fornecedores sem custo), valorizam a imagem da CIPA e conscientizam a todos.
- Seja Persistente: Fazer uma CIPA funcionar é uma tarefa possível, mas que exige persistência, tanto é que diversas CIPAs não funcionam, outras funcionam em um ano e noutro não, tanto o presidente como os cipeiros precisam ser persistentes no alvo do funcionamento. Persistência, porém, não é teimosia, deve-se se saber que nem tudo o que se busca será possível, portanto, deve-se ter bom senso para saber quando é preciso persistir ou parar num certo assunto.
- Apóie o SESMT, mas não dependa só dele: O SESMT é um setor de segurança e medicina do trabalho existente em algumas empresas conforme NR-04, quando existem a CIPA deve apoiar e ser apoiada por ele, deve haver uma plena sintonia, mas não pode ser dependente deste, pois o que deve prevalecer é um apoio mútuo e não uma dependência, a CIPA deve ter autonomia desde que aja com bom senso. Deve-se ainda convidar os membros do SESMT para participarem das reuniões e ações da CIPA criando maior sintonia.
- Seja Estratégico: Para a CIPA ter força ela precisa ser estratégica para a empresa e para os empregados, qual empresa não gostaria que sua CIPA reduzisse o nº de acidente, que aumentasse o nº empregados que usam os EPIs(equipamentos de proteção individual), por exemplo. Qual o empregado não gostaria de apoiar uma CIPA atuante que lhe traz benefícios.
-  Respeite a Cultura Organizacional da Empresa e Conquiste o crescimento gradativo da CIPA: Toda a empresa tem sua cultura, que precisa ser respeitada e trabalhada com calma, principalmente, em empresas onde a CIPA ainda não conseguiu demonstrar a importância da Segurança e Medicina do Trabalho. Neste caso, o trabalho da CIPA tem que existir e buscar o funcionamento sim, mas, de um modo mais discreto, demorado e político, conquistando aos poucos o seu espaço. Sempre que presido uma CIPA pela 1ª vez numa empresa, vamos realizando as coisas devagar e conquistando as mudanças aos poucos. Sempre tem o que fazer, houve situações que começamos tratando de problemas pequenos como tomadas de uma única sala e limpeza de um locoal e depois com o tempo chegamos a tratar de problemas que envolviam alto custo como, por exemplo, ajustes e compras de EPIs modernos e mais caros para trabalhos em espaços confinados ou em altura.

8 comentários:

  1. Muito verdadeira essa postagem. Uma CIPA que funciona é uma conquista. E toda conquista gera algum trabalho. No caso da CIPA, ela precisa ser observada e cuidada como se fosse uma joia preciosa. E assim conseguiremos extrair dela o que ela deve fornecer, segurança do trabalho no ambiente.

    Abraços Juliano

    ResponderExcluir
  2. Prezado Leitor Nestor, primeiramente muito obrigado pela sua importante participação, parabéns pela sua louvável colocação e é bem por aí, o diferencial de uma CIPA que funciona é a forma com os membros delas a tratam, e mais que isto a valorizam. Sejas sempre bem-vindo.
    Abraço - Prof.Adm. Juliano!

    ResponderExcluir
  3. Prezando Professor,gostaria quais as principais diferenças entre CIPA e a CPATP?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Prezado Leitor, Boa Tarde, antes existia apenas um tipo de CIPA-Comissão Interna de Prevenção de Acidentes voltadas à todas empresas privadas em geral de acordo com a NR-05, com o passar dos anos foi se entendendo que há segmentos que possuem condições de riscos especiais, diferenciados das maiorias das empresas, de modo que não é tão eficiente se basear unicamente no aspecto geral de uma CIPA, a CIPA proposta pela NR-05 quando bem gerenciada tende a dar certo na grande maioria dos segmentos, porém, para outros segmentos específicos, entende-se que precise haver uma maior adequação da CIPA as necessidades bem específicas daquela área. Para isto, o Ministério Trabalho editou outras NRs de aplicação especial para apenas alguns segmentos, os quais neste caso devem ter uma CIPA especialmente adequada a elas, a CIPA geral proposta pela NR-05, a CIPATR proposta pela NR-31 no seu item 31.7, Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural – CIPATR voltada ao segmento rural, Comissão Interna de Prevenção de Acidentes na Mineração - CIPAMIN citada na NR-22 para o segmento da Mineração e finalmente a CIPATP, Comissão de Prevenção de Acidentes no Trabalho Portuário – CPATP que é voltado ao segmento de trabalho nos portos de navegação definida dentro da NR-29. É importante se ater que os SESMTs podem variar de acordo com cada NR citada em sua nomenclatura e jamais confundir SIPAT (Semana Interna de Prevenção a Acientes) com CIPAT como uma espécie de CIPA, que neste caso não existe. Nas Nrs citadas constam maiores detalhes de cada tipo de CIPA, elas constam no site do Ministério do Trabalho. Atenciosamente, Prof. Juliano.

      Excluir
    2. Obrigada pelo esclarecimento.Desde já muito grata.

      Excluir
    3. Por nada, leitora, abraços! Prof. Juliano.

      Excluir
  4. Olá,boa noite!
    Gostaria sabe se há necessidade de constituir CIPA nas empresas da Indústria da Construção? E se essa construtora é obrigada a elaborar e executar o PCMAT? Por quê ?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Leitora, Boa Noite, a obrigatoriedade do PCMAT consta na NR-18 no seu ítem 18.3.1 para obras a partir de 20 trabalhadores, no ítem 18.33 desta mesma NR, fixa os requisitos para a obrigatoriedade ou não de CIPAS nas obras, que varia de acordo com o nº de obras dentro de uma mesma cidade, tempo de duração da obra e quantidade de trabalhadores, além disto, aquilo que não conflitar com a NR-18, é complementado pela N-05, ou seja, você deve integrar as duas normas. Podes acessar as NRs na íntegra no site do Ministério do Trabalho, http://portal.mte.gov.br/legislacao/normas-regulamentadoras-1.htm, atenciosamente, Prof. Juliano.

      Excluir

Seu Comentário é Muito Importante!